Todo baterista quer ter um bom equilíbrio entre a habilidade de ambas as mãos, não é?
Eu sou Edni Devay, baterista e educador e aqui estou para tratar de um tema que com toda certeza vai interessar a todos nós bateristas. Ter uma mão tão boa quanto a outra é praticamente um sonho que todos nós queremos alcançar.
O objetivo de ter ambas as mãos “niveladas” é comum a músicos e vários atletas, como tenistas e jogadores de vôlei que quando funcionam de forma equivalente tem um desempenho infinitamente melhor do que os que não possuem estas técnicas.
É importante ficar atento quando estivermos tocando, para não sobrecarregar apenas uma das mãos e deixar a outra mão “descansando”. O principal objetivo aqui é abordar formas praticas que proporcionem o total rendimento das duas mãos de forma equivalente.
Bateristas destros, costumam sobrecarregar a mão direita para conduzir um Groove ou para iniciar frases e viradas. Já os bateristas canhotos, espontaneamente sobrecarregam a mão esquerda. Isso é algo extremamente natural, e praticamente unânime entre nós.
Por isso algumas pessoas dão dicas para tornar aquela mão “preguiçosa” mais ativa e tão funcional quanto a “dominante”, como por exemplo, escovar os dentes ou usar o talher (faca) na mão sua mão fraca. Isso ajuda a criar um hábito e desenvolve a evolução desta mão.
Mas vamos ao que interessa, afinal um baterista que tem as duas mãos funcionando 100% e a todo vapor, normalmente tem uma performance superior, devido a facilidade e agilidade de executar movimentos mais acelerados ou mais complexos que exigem uma maior independência e coordenação.
Para obter uma melhor compreensão e assimilação do conteúdo que iremos abordar aqui acompanhe os vídeos abaixo que mostram na prática, os procedimentos necessários para alcançar os objetivos desejados.
Como nivelar as mãos
Antes de colocar a mão na massa, é importantíssimo ter a consciência de que todo e qualquer processo de aprendizagem, ou de construção de novos hábitos depende de alguns fatores que estão interligados e integrados.
Como você já sabe, nada acontece num piscar de olhos ou como num passe de mágica. É necessário ter disciplina, periodicidade e regularidade durante o processo para que possamos alcançar o objetivo de forma plena e satisfatória.
Não esqueça também que a pressa é inimiga da perfeição. Não é nada saudável adiantar o passo para conquistar mais rápido um objetivo.
Dito isso, vamos então embarcar nas nossas bateras, segurar as baquetas e começar a pilotar nossa espaçonave. Apertem os cintos e uma boa viagem a todos!
Mão na massa
A aplicação que vamos praticar na bateria, traz o samba como fio condutor para o desenvolvimento da proposta de fazer as duas mãos funcionarem de forma equivalente.
Dentre outros aspectos, esta aplicação se caracteriza por ter duas “vozes” ou padrões rítmicos. Cada uma dessas vozes tem funções bem características que diferenciam uma da outra, porém, mesmo sendo diferentes, uma voz completa a outra.
A voz principal que se baseia no padrão rítmico do Teleco Teco, tem a função de conduzir o Groove. Esta voz tem um “apelo melódico” mais forte e acaba se sobrepondo à voz secundária que fica com a função de fazer o preenchimento rítmico ou o contraponto.
Os toques ou os movimentos feitos com as mãos, vão ser executados sobre uma base rítmica feita com os pés no bumbo e no chimbal (Hi-Hat) que reproduz o ostinato tradicional do samba com o bumbo dobrado e o chimbal no contratempo ou no tempo fraco.
A voz principal que reproduz o padrão do Teleco-Teco, é tradicionalmente executada no tamborim, mas iremos adaptar e tocar na caixa da bateria.
Basicamente vamos ter duas opções para tocar o padrão rítmico do Teleco teco. Na primeira opção, vamos iniciar a execução tocando no primeiro tempo forte do primeiro compasso, como podemos observar na imagem abaixo:
Na segunda opção, vamos fazer uma inversão e trocar a ordens dos compassos, o primeiro compasso passa a ser o segundo e vice-versa. Depois de feita a inversão dos compassos, observamos que a execução não vai iniciar no primeiro tempo forte do primeiro compasso, pois vamos ter uma pausa de semicolcheia, como podemos ver na imagem abaixo:
Diante disso, vamos iniciar a execução antes mesmo do primeiro compasso, o que chamamos de anacruse. Veja a imagem abaixo:
Já a voz secundaria, a princípio vai ser executada no prato de condução (Ride) e em seguida pode ser orquestrada de maneiras diferentes com timbres (peças) diferentes que cada batera tem no seu instrumento (Tons, surdos, cowbells, dentre outros).
RECOMENDAÇÕES:
- Todas as sugestões propostas, devem ser executadas com as duas mãos de forma alternada, ou seja, tocar com uma mão e em seguida com a outra sem interromper ou pausar a execução.
- Comece bem lentamente, com o metrônomo marcando cerca de 50 BPM, e va acelerando à medida que a execução estiver sendo feita com segurança com as duas mãos.
- Tenha muita atenção à dinâmica no momento em que estiver executando a voz principal ou o padrão rítmico do Teleco-teco. Os toques fortes e fracos devem ser feitos de acordo com a notação da partitura com a intenção de reproduzir o resultado sonoro adequado.
- Para fazer as inversões das mãos, podemos tocar oito compassos na mão direita e trocar para a mão esquerda tocando mais oito compassos. Lembrando que isso não é uma regra, podemos tocar de quatro em quatro compassos ou ainda apenas de dois em dois.
Após ter feito a última execução, e repetido por várias e várias vezes até conseguir ganhar um condicionamento para executar com total segurança e naturalidade, vamos fazer algumas adaptações ou variações.
A princípio, vamos manter a voz principal intacta, sem fazer variações. Já a voz secundária, que estava sendo executada no prato de condução, vai passar a tocar outras peças da bateria, porém, mantendo o mesmo padrão rítmico.
Vamos então fazer uma distribuição ou orquestração dos timbres da bateria para conseguir resultados sonoros diferentes.
A primeira variação com a voz secundária é bem simples, vamos tocar o tom 01 e o surdo de forma alternada, um após o outro, sempre no segundo tempo de cada compasso. Lembrando que estamos tocando um compasso binário!
A segunda etapa desse processo, já requer mais concentração para execução, pois vamos adicionar outros timbres diferentes como o exemplo do tom 01 e do surdo. Vamos adicionar Cowbells, tamborins, dentre outros timbres.
Não necessariamente devemos tocar com os cowbells ou tamborins, cada baterista vai utilizar os acessórios os timbres que tem disponível no seu instrumento.
A principal intenção é assimilar o princípio da execução para ficar livre na escolha dos timbres a serem executados.
É claro que quando utilizamos timbres diferentes, os resultados sonoros que vamos obter serão outros, e é justamente esse um dos pontos mais importantes na minha opinião, pois não é necessário copiar e fazer exatamente como o exemplo sugerido. Devemos sempre estimular e exercitar a nossa criatividade.
Veja a seguir, algumas sugestões para criar variações com a voz rítmica secundária, e compor orquestrações diferentes: (sugiro que veja os vídeos de apoio) e confira os vídeos para melhor compreensão dos exercícios.
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Mobilidade rítmica com Samba Teleco Teco,